Open Source

A definição de softwares open source se baseia no tipo de licenciamento de uso que o mesmo adota. Entenda-se por licenciamento, um "contrato" aceito entre as partes que regem aspectos legais referentes ao direito de propriedade intelectual sobre os sistemas, sobre os tipos de uso, como uso pessoal, educacional ou profissional e respectivo pagamento, ou não, de licenciamento, acesso aos códigos fontes, permissão para alteração do software, gratuidade obrigatória, entre outras questões.
Existem diferentes tipos de licensas que são utilizadas por diferentes softwares open source, como GNU GPL, BSD, Apache License etc. 1*

Podem ser citados como exemplo de software Open Source/Free Software, Apache, Linux, Perl, Python, GCC, BIND, Samba, Firefox, etc.

Vale abrir uma parênteses para pontuar as diferenças entre Software Livre (Free Software) e Código Aberto (Open Source). O conceito de Free Software é anterior ao conceito de Open Source, e segundo o Free Software Foundation (FSF), "Software Livre" é uma questão de liberdade, não de preço. Para entender o conceito, você deve pensar em "livre" como em "liberdade de expressão", não em "cerveja de graça".
This is a matter of freedom, not price, so think of “free speech,” not “free beer.” *2

Os dois termos, "Software Livre" e "Código Aberto", descrevem praticamente a mesma categoria de software, mas se fundamentam em visões de valores diferentes. "Código Aberto" é uma metodologia de desenvolvimento, "Software Livre" é um movimento social. Para o movimento do software livre, software livre é um imperativo ético porque somente o software livre respeita a liberdade do usuário. Por outro lado, a filosofia do "código aberto" enfativa a questão de como fazer um software melhor, somente em termos práticos. Ele diz que software não-livre (software proprietário) é uma solução inferior. Para o movimento do software livre, contudo, software não-livre (software proprietário) é um problema social, e a solução é parar de usá-lo e trocar pelo software livre. *2


O Free Software Foundation se baseia no modelo racional para concluir que o Software Livre é a melhor solução para as pessoas, e que a comprensão das barreiras externas ao desenvolvimento humano e a superação delas levaria o ser-humano a níveis mais elevados de liberadade. Isso é verdade em partes, ou a uma parte da sociedade. Os limites internos do ser humano, que compõem o modelo social, são tão ou mais limitantes que as imposições do meio, de maneira que as limitações externas são aceitas e passam a compor traços da personalidade, valores morais e padrões de comportamento adequados ao não questionamento das imposições externas.
Existe uma dose de utopia no discurso do Free Software Foundation. Uma utopia positiva porque questiona os modelos sociais estabelecidos, e que não se aplica somente ao universo da Tecnologia. Ao contrário, é a incorporação na tecnologia de questões filosóficas de fundo humanista, que especulam a possibilidade da evolução baseada no diálogo e não na evolução baseada em simples manipulações de recursos tecnológicos, humanos e o que mais for necessário para realizar as manobras para atingir os objetivos de um grupo qualquer de interessados.

Para as pessoas acostumadas a exercer o livre pensar, a utilização do Software Livre pode contribuir, sem sombra de dúvidas, com a manutenção do seu livre arbítrio.

Esse parenteses ajuda a contextualizar a espinha dorsal desse artigo, que procura articular idéias sobre o significado do modelo Open Source, a sua exploração comercial por grandes empresas de tecnologia, um modelo distribuído e barato de desenvolvimento e evolução de ferramentas complexas, a entrada das grandes empresas de serviço nos mercados globais e a falta de senso de oportunidade dos governantes, empresários e estudandos brasileiros frente a uma briga que já pode ter acontecido e que o Brasil não perdeu porque talvez nem tenha reconhecido a sua existência.

Conforme explicado acima, softwares licenciados no modelo Open Source são obrigados a serem distribuidos com o seu código fonte. Fazendo uma analogia, o código fonte é como a receita de um bolo, basta seguir a receita que se chega ao bolo. Para ser um pouco mais claro na analogia, o código fonte seria como uma massa pronta de fazer bolo, basta adicionar água ou leite e assar para sair um bolo pronto. Ter o código fonte de um software significa que um profissional especializado pode alterar o software da maneira que quiser. O profissional especializado é uma figura fundamental nesse processo, é aquele que vai se beneficiar, ou levar à alguém o benefício de se ter acesso ao código fonte, porque é necessário ser especializado no assunto para tirar proveito disso.
Outras pessoas participam do processo de desenvolvimento de um software Open Source, processo esse aliás que é objeto de estudo de grandes empresas e universidades, porque permitiu o desenvolvimento de sistemas avaliados em centenas de bilhões de dólares. Os papéis existentes na cadeia de desenvolvimento de um software Open Source vai de desenvolvedor, especificador, testador, entusiasta, divulgador, designer etc.

Softwares Open Source que tenham licensas permissivas, isto é, que possam ser explorados comercialmente viram produtos rapidamente nas mãos das grandes empresas de soluções de tecnologia. Oferta de solução de tecnologia é um conceito que explodiu de uns 10 anos para cá, após a IBM através do seu slogan "on demand" se colocar no mercado como uma provedora de serviços e deixar de lado a sua vertente baseada em produtos. Hoje os seus produtos suportam os seus serviços. De lá para cá, todas as grandes empresas passaram a orientar os seus negócios com base em oferta de serviços.
Com excessão de umas poucas grandes empresas de TI, todas utilizam softwares Open Source para suportar o seu modelo de negócios baseado em serviços. De sistemas operacionais, banco de dados, servidores de aplicações, sistemas para análise das camadas de rede, roteadores, firewalls etc, várias empresas desenvolvem, adquirem empresas, fomentam de alguma maneira, ou compram empresas de softwares open source para eliminar concorrência.

Onde se encaixa o Brasil nesse jogo? Do ponto de vista comercial, o Brasil é consumidor de produtos e serviços, gerando déficit na balança comercial com países estrangeiros, principalmente os EUA.
Do ponto de vista de desenvolvimento de software Open Source, o Brasil participa de alguma maneira junto a diferentes projetos, mas nada relevante. O Brasil é utilizado como laboratório de pesquisa para muita coisa, e muitas vezes sem saber ou se dar conta. Acredito que em relação ao Open Source muitos brasileiros se posicionam como entusiastas do movimento Open Source, e o entusiasta é um dos papéis fundamentais em qualquer projeto, principalmente quando se tem como base de divulgação a Internet. Formadores de opinião na Internet acabam gerando movimentos de massa que podem alavancar um produto ou uma idéia.

O brasileiro é visto ou é dito como sendo versátil, criativo, empreendedor, mas e daí? Em relação ao desenvolvimento de software Open Source quais são as empresas brasileiras que geram empregos, receitas e benefícios para o país? Desenvolvedores e colaboradores brasileiros contribuem com muitos sistemas que são mantidos por empresas estrangeiras que posteriormente venderão os seus produtos no mundo inteiro, inclusive aqui.

As instituições brasileiras de qualidade no ensino superior, formam profissionais que são rapidamente absorvidos por empresas que agregam pouco valor a cadeia nacional de Tecnologia da Informação. Geralmente esses profissionais adquirem rapidamente postos de trabalho que os colocam como decisores em relação as estratégias tecnológicas e as escolhas se baseiam em padrões de mercado, que são baseados em produtos estrangeiros.
Outras instituições de ensino superior de baixa qualidade formam consumidores de padrões tecnológicos que as próprias insituições absorveram de modelos vindos de fora.

Esse artigo não defende a imposição de qualquer tipo de reserva de mercado para o desenvolvimento de soluções nacionais, porque a utilização de soluções importadas não se dá somente com produtos ou mesmo serviços, mas também com idéias, conceitos, metodologias e demais derivados das atividades intelectuais. Não seria portanto através da proibição de circulação de idéias que aumentaria a produção intelectual nacional, e é talvez isso que estamos discutindo à priori.
Talvez para produtos e serviços seja necessária a imposição de controles contra os competidores externos, mas não é esse o motivo da nossa discussão.

A discussão se dá em torno da cultura pouco empreendedora, pouco pesquisadora e inovadora. O nosso país se encontra no meio do processo de inserção nos mercados globais, mas ainda não possui a cultura necessária para se apresentar com soluções efetivas para as situações dos potenciais consumidores. Em se tratando de cadeias globais, um consumidor potencial é o nosso próprio país, e dessa maneira se não for um fornecedor para as suas necessidades, um consumidor será para as soluções estrangeiras. Sei que existem algumas discussões acerca da real necessidade de o Brasil se tornar um fornecedor de soluções high-end, seja na área de TI, medicina, engenharia etc, porque somos extremamente privilegiados nas reservas e na produção de produtos primários. Pode ser que seja um ponto de vista válido, mas que por ser verdade não exclui outras possibilidades, ainda mais aquelas que não foram ao menos compreendidas como a emergência do software Open Source.

As soluções Open Source se apresentam como de melhor qualidade frente as soluções proprietárias, devido ao seu modelo de desenvolvimento distribuído e testado ao extremo por uma comunidade integrada pela rede mundial de computadores. E de fato o são até o momento, tanto que vêm sendo adotadas como padrão por grandes empresas de TI e por empresas consumidoras intensivas de TI.
Os brasileiros que participam das comunidades de software Open Source são majoritariamente entusiastas e usuários finais dos produtos. Colaboram muito para a evolução dos softwares através de informes de problemas, compartilhamento de novas idéias, e também com o desenvolvimento ou manutenção de funcionalidades, ajudando a criar produtos de alta qualidade.

Mas a comunidade Open Source se move somente pelo desenvolvimento e pelo compartilhamento de softwares entre as pessoas? Definitvamente não. A comunidade possui grades colaboradores institucionais, gigantes players de TI que colaboram com a comunidade através de funcionários contratados que participam ativamente e muitas vezes exclusivamente para os projetos, e posteriormente empacotam os produtos em versõs comerciais.
Essa é uma briga que o Brasil não perdeu porque nem entrou. Não entrou porque nem tomou conhecimento do potencial, ou talvez porque mesmo conhecendo o potencial não tinha escala e cultura para encara uma inicitiva desse porte. E talvez essa onda já tenha passado e quem entrou nela está lá na frente.

Possivelmente, em um futuro próximo, a maioria dos softwares vai virar commodity no sentido de que eles vão atingir um nível de qualidade que não será necessário o esforço de desenvolvimento de muita coisa, pois já estarão prontos. Tanto os softwares Open Source quanto os proprietários atingirão esse nível em futuro não tão distante.

O Brasil, assim como muitos países possui necessidades em diversas áreas como por exemplo expanssão de infra-estrutura aeroportuária e no nosso caso, sei que diz não ter dinheiro para comprar os melhores sistemas (entenda-se software, hardware e demais serviços de TI) para a cobertura do seu espaço aéreo. Não possui empresas nacionais envolvidas com pesquisa de ponta em TI, não tem profissionais pesquisando e não tem a mínima idéia de que está sendo atropelado tecnologicamente, e que muito do que está sendo importado para o consumo poderia ser desenvolvido através da adoção de softwares Open Source.

Não sei se seria sensato jogar a culpa desse atraso na alta carga tributária que inibe a livre iniciativa e onera os custos de pesquisa das empresas. O que é certo, é que o ambiente para a emergência dessa iniciativa é realmente pobre, tanto por parte das empresas, dos governos, das instituições de ensino e dos profissionais de TI.

Revisões
Publicado em 06/04/2010 em aprox. 0:30 hr
Escrito em 05/04/2010 em aprox. 4:30 hr

Referências:
1* http://www.gnu.org/licenses/license-list.pt-br.html#NonFreeSoftwareLicense
2* http://www.fsf.org/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Licen%C3%A7as_BSD_e_GPL

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