Anti-metodologia

Esse artigo discute a influência das metodologias de desenvolvimento de software na qualificação de profissionais de TI e o papel das pequenas consultorias nesse processo.

A utilização de metodologias para o desenvolvimento de software não é algo que entusiasma com unanimidade os profissionais de TI. São vários os motivos, que vão de preguiça intelectual a desilusões com os resultados obtidos. Passando ainda por profissionais despreparados, a emergência recorrente de novas metodologias que atropelam as antecessoras, além de pressões do mercado para impor novos padrões que possibilitem a venda de novos produtos, treinamentos e posicionamento de novas marcas.
A conjunção de alguns dos motivos citados é o suficiente para que processos sejam deixados de lado em fábricas de software. O próprio termo fábrica de software é demonizado por alguns profissionais de TI, acreditanto que uma fábrica de software não pode existir na sua essência, pois o insumo utilizado é a criatividade, e a "máquina" que fábrica o produto final é o cérebro das pessoas. Não enxergam porém, que a maioria dos softwares que podem ser confeccionados em modelo de fábrica de software obedecem a padrões simples em termos de construção de software, o que faz com que as tarefas sejam repetitivas de qualquer maneira. Alegar o cerceamento da criatividade para desenvolver tal coisa simples é rebaixar a capacidade dos profissionais.

O status que se atribui a um profissional que domina o ciclo de vida do desenvolvimento de um software específico muitas vezes não está na capacidade intelectual e criativa de se resolver problemas, e sim na detenção do conhecimento sobre o negócio que o software implementa. Isso é muitas vezes confundido como capacidade técnica.
O reconhecimento do cliente final é atribur valor ao produto de acordo com o cumprimento das suas expectativas de negócio. O retorno do nível de satisfação do cliente final começa a descer a cadeia hierarquica, e vai se transmutando de reconhecimento de implementação de negócios para requisitos de negócios, análise de sistema, implementação do software, configuração do ambiente de execução e controle de qualidade. Quando chega no implementador, considerando que estamos falando de um faz-tudo, que cumpre sozinho todos esses papéis descritos, e não de um profissional incluído em uma cadeia produtiva, ele e os seus superiores imediatos o consideram um bom profissional de tecnologia, o que nem sempre é verdade, pois a implementação é abstraída no ponto de vista do cliente final.
Esse modelo se sustenta porque a produção do software fica centralizada na mão de poucos profissionais, que por questão de status, insegurança, desconhecimento ou falta de visão preferem que os sistemas sejam desenvolvidos de maneira artezanal.
Existem também problemas de ordem prática, como a falta de estrutura ou de tamanho adequado para a implantação de uma fábrica de software. Uma empresa pequena, com uma equipe de 12 pessoas na área de desenvolvimento não pode consegue implantar uma fábrica de software obtendo ganhos de escala.
Atualmente há uma proliferação de pequenas consultorias que empregam entre 20 e 50 profissionais, sob variadas formas de contratação. Essas pequenas consultorias atuam em clientes específicos, sendo basicamente um apêndice de outras empresas, às vezes tão pequenas quanto elas próprias. Essas pequenas consultorias utilizam o discurso de serem especialista em áreas diversas, como Business Intelligence, Banking, Mobile só para citar algumas, mas na verdade a expertise, o conhecimento está na mão de alguns poucos profissionais da empresa. Poucos em termos absolutos pois às vezes a empresa possui um bom arquiteto de SOA por exemplo e propagandeia ser uma empresa especialista em SOA, ou contrata esporadicamente um bom DBA ou um bom gerente de projetos PMP e propagandeia ser uma empresa especialista em administração de banco de dados e em metodologias de desenvolvimento de projetos.

É ilusão acreditar que essas pequenas consultorias tenham uma fábricas de software nas suas instalações, esse termo da moda não cabe em qualquer circunstância. O que não tira todo o valor dessas pequenas consultorias pois elas possuem alguns pontos positivos como flexibilidade no atendimento aos seus clientes e agilidade na resolução de problemas. São como pequenos departamentos de informática que atuam com chamados de usuários, como pequenas oficinas que consertam diferentes tipos de equipamento, como pequenos ateliês que confeccionam peças que serão utilizadas em um contexto de negócios mais amplo.

Uma discussão sobre as pequenas consultorias de desenvolvimento de software seria por sí só motivo para uma análise mais profunda. Elas ocupam um espaço cada vez maior, acompanhando a evolução da TI em todos os segmentos da sociedade, governos e empresas. Mas a sua relevância no contexto global de TI deve ser analisada do ponto de vista da agregação de valores que elas trazem para a cadeia como um todo. É notável nessas pequenas consultorias que os relacionamentos com seus clientes e fornecedores principais (pessoa física no papel de desenvolvedor) sejam cada vez mais flexíveis, ou seja, contratos que não possuem muitas obrigações, isso quando existem contratos efetivamente. A consequência disso é uma maior diminuição de custos na cadeia, pois os fornecedores dessa cadeia estão em uma posição que os obriga a negociar sempre que surge uma situação de impasse.
Apesar dessa baixa nos custos, os ganhos das pequenas consultorias de desenvolvimento de software ainda é maior do que em outros setores da economia como um todo, o que faz com que os resultados sejam satisfatórios para os profissionais que participam do negócio, sejam donos ou funcionários, prestadores de serviço ou contratados.

A utilização de processos para o desenvolvimento de software e o estabelecimento de cadeias complexas que podem ser chamadas de fábrica de software não passa portanto ao largo das pequenas consultorias de desenvolvimento.

Já uma empresa de porte médio, com aproximadamente 200 funcinários funcionando como uma pequena consultoria é um desperdício de recursos. Seja em patrimônio como equipamentos, capital financeiro, a mão-de-obra dos seus profissionais e também de bens intangíveis como a marca da sua empresa construída ao longo do tempo. Algumas empresas de porte médio funcionam inercialmente dessa maneira, na dependência de que as pessoas resolvam cada uma a sua maneira problemas da mesma natureza.

As grandes empresas de fornecimento de soluções de TI, sejam produtos prontos ou desenvolvidos sob demanda, com as suas vantagens competitivas alcançam grau elevado de eficiência devido à rentabilidade que o setor oferece. A curva de demanda por produtos de TI é muito acentuada, fazendo com que a procura seja muito grande para as empresas bem posicionadas no mercado.
Mas não é possível imaginar que essas grandes empresas funcionem como uma pequena consultoria, porque se assim fosse o desperdício de suas margens seria muito grande devido as suas proporções. E também por terem estruturas muito grandes com vários sites, muitos funcionários e departamentos, qualquer alteração levaria muito tempo, quando não anos para se realizar.
Essas grandes empresas poderão vir a ser as responsáveis por uma mudança de patamar em termos quantitativos e qualitativos na TI no Brasil. A utilização de metodologias com processos que se prestem a realidade dos seus projetos, e mais do que isso, à sua estrutura corporativa, traz a possibilidade de gerar grandes benefícios para os seus funcionários. Ao contrário do que se imagina, uma fábrica de software não nivela o potencial dos profissionais por baixo. As atividades repetitivas que existem em qualquer processo fabril podem ser otimizadas trazendo ganhos de produtividade, e não representam barreiras ao potencial criativo de qualquer profissional, pois não é nas atividades repetitivas que a criatividade é demonstrada. Em uma fábrica de software, diferentes atividades são especializadas, possibilitando ao profissional o amadurecimento em diferentes áreas em um potencial muito elevado. Esse potencial é maior do que aquele para um profissional que atue como um faz-tudo em uma pequena consultoria. Lá ele pode fazer tudo bem feito, mas dificilmente ele atingirá os seus limites porque as limitações impostas pelo modelo de negócios das pequenas consultorias é anterior.

A geração de grandes equipes altamente qualificadas nas diferentes atividades do desenvolvimento de software é o melhor caminho para a exploração do potencial dos profissionais de TI no mercado brasileiro e consequentemente no competitivo mercado global. Aí sim estaremos falando no surgimento de de super-heróis, de profissionais criativos e eficientes.

Revisões
Publicado em 24/08/2009 em aprox. 0:15 hr
Escrito em 21/08/2009 em aprox. 4:30 hr

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